Crítica - O Macaco
- Douglas Faccenda
- 7 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: há 5 dias

Na contramão da expressão "tão ruim que chega a ser bom", o novo filme de Osgood Perkins fica apenas no "tão ruim"
A expressão "não esperava nada e ainda assim fiquei decepcionado" define bem a experiência de assistir O Macaco. A presepada dirigida por Osgood Perkins acompanha os irmãos gêmeos Hal e Bill, interpretados por Christian Convery na infância e Theo James na fase adulta. O filme, de cara, já nos apresenta ao primata que dá nome à obra e mostra do que ele é capaz. Em seguida, desenvolve a relação conturbada entre os dois irmãos: um tímido e retraído, enquanto o outro se aproveita dessa fragilidade para dominá-lo e manipulá-lo. Essa relação problemática degringola ainda mais quando eles encontram o referido macaco do ato inicial no sótão da casa. Dessa maneira, estabelece-se tanto a história do filme quanto sua tônica – a cada batida das baquetas do brinquedo no tambor, alguém nas redondezas morre de forma tão trágica quanto hilariamente absurda. É como se o macaco (ou a entidade por trás dele) tivesse um senso de humor sádico e estivesse jogando um jogo cruel de "quem será o próximo?". A ideia até poderia funcionar, mas a execução parece uma mistura desengonçada de Papa-Léguas com a franquia Premonição, sem nunca encontrar o tom certo entre terror e comédia
Por falar em risos e sustos, o filme não consegue decidir se vai para o lado do terror ou da comédia desde a primeira cena. Desta cena se seguem outras tantas que me fazem duvidar da sobriedade do diretor Osgood Perkins durante a execução deste projeto. Tudo bem que seu trabalho anterior, o suspense/terror "Longlegs – Vínculo Mortal" já mostrava seu jeito esquisitão de dirigir, mas era um filme consistente, com uma pegada séria e que não saía fora do tom proposto. Agora, nesse “O Macaco”, a única coisa consistente é que ele é ruim do começo ao fim. E olha que ao escrever “ruim” ainda estou sendo generoso.
Dito isso, vou fazer uma ressalva. Quando analiso um filme, estou o fazendo com a minha ótica, o meu gosto pessoal, os meus preconceitos, as minhas preferências, as minhas expectativas. Não existe tal coisa de análise imparcial. Podemos nos esforçar ao máximo para deixar nossas predileções de lado, o que, aliás, é sinal de profissionalismo e honestidade intelectual, mas elas sempre vão estar ali presentes, de forma mais sútil, ou como no caso da presente análise de forma bem expressa (não vou usar filtro).
Sei que existem “gostos e gostos”, mas no presente caso a coisa é mais séria (ou menos séria dependendo o ângulo) porque é um filme sem pé nem cabeça, que não faz por justificar sua existência e sobretudo muito mal executado em todos os pontos de vista possíveis: direção, roteiro, atuações… por incrível que pareça, a única coisa que eu poderia apontar como “não tão ruim” são os efeitos visuais.
O roteiro do filme é baseado no conto O Macaco, que faz parte da coletânea Skeleton Crew, de Stephen King. Publicada em 1985, essa antologia reúne uma das seleções mais icônicas do autor, mesclando horror, ficção científica e fantasia sombria. Entre os contos presentes, destaca-se O Nevoeiro, que foi brilhantemente adaptado para o cinema em 2007, pelo diretor Frank Darabont, conhecido pelos excelentes Um Sonho de Liberdade (1994) e À Espera de um Milagre (1999).
O próprio Stephen King assina o roteiro da produção ao lado de Osgood Perkins. Curiosamente, os direitos cinematográficos de The Monkey pertenceram inicialmente a Darabont, que pretendia adaptá-lo após finalizar O Nevoeiro. No entanto, o projeto nunca saiu do papel.
Confesso que não li o conto, mas o roteiro do filme é fraco e não desenvolve de forma satisfatória nenhum dos personagens principais. Esse problema se agrava ainda mais com a atuação insossa de Theo James, que tem o carisma de um paralelepípedo. A versão dele mais jovem, interpretada por Christian Convery, me agrada mais. Os coadjuvantes, assim como os protagonistas, entregam atuações medíocres, que mal merecem ser avaliadas. Além do pouco tempo de tela, o roteiro não lhes dá qualquer desenvolvimento significativo — sem falar que o macaco dá cabo deles rapidamente.
No fim das contas, a melhor parte de assistir O Macaco no cinema foi a pipoca... e o final do filme, já que, quando ele termina, você sente como se tivesse sido libertado de uma sessão de tortura audiovisual.
Nota do SOUCINE.COM – 3
O Macaco (The Monkey – EUA, 2025)
Direção: Oz Perkins
Roteiro: Oz Perkins
Duração: 98 min
Elenco: Theo James, Tatiana Maslany, Ed Wood, Colin O’Brien, Christian Convery, Sarah Levy, Oz Perkins
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