Crítica - Branca de Neve
- Douglas Faccenda
- 22 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de abr.

Expectativas, polêmicas e … decepção
A nova adaptação live-action da Disney, Branca de Neve (2025), dirigida por Marc Webb e estrelada por Rachel Zegler, chegou com muitas expectativas e algumas polêmicas. O filme tenta modernizar o clássico de 1937, equilibrando tradição e inovação. Mas será que conseguiu?
Apesar da proposta de revisitar um dos contos mais icônicos da Disney, a produção decepciona no quesito visual. A fotografia de Mandy Walker (Elvis) tenta imprimir um tom mágico, mas esbarra na pobreza dos detalhes e na artificialidade dos efeitos visuais. Os cenários, que deveriam transportar o espectador para um reino encantado, mais parecem um vilarejo simplório, com poucas casas, sem a grandiosidade esperada de um conto de fadas. Os famosos anões, figuras fundamentais na narrativa clássica, foram substituídos por personagens digitais que carecem de carisma e realismo... e que, no final, nem são "anões", e sim "criaturas mágicas". Os efeitos visuais falham em dar vida a esses coadjuvantes, tornando-os artificiais e destoantes do universo do filme. A falta de um design convincente compromete a imersão, fazendo com que a magia visual pareça superficial e inacabada.
Rachel Zegler (Amor, Sublime Amor), como a personagem do título, entrega uma performance carismática e confiante. Muita gente vai torcer o nariz para a atuação de Zegler em função das declarações progressistas da atriz durante a promoção do filme, mas aqui estamos analisando uma obra e não as preferências políticas dos envolvidos na produção. Sua versão da princesa é mais independente e proativa, fugindo do estereótipo da donzela indefesa. Como mencionado antes, essa reinterpretação pode não agradar a todos, pois retira parte da doçura e ingenuidade que marcaram a animação original. O que ninguém discorda em relação à atriz é que ela manda muito bem cantando. Gal Gadot (Mulher-Maravilha), que interpreta a Rainha Má, não entrega uma performance convincente. Seu figurino e visual são impecáveis, mas a falta de inspiração da atriz faz a vilã perder parte de sua ameaça. Junta-se a isso um roteiro que parece ter sido trabalhado às pressas e não se preocupa em desenvolver a vilã.
As mudanças narrativas na história também não ajudaram muito. Não que uma tentativa de renovação ou atualização não seja bem-vinda... desde que seja bem feita, o que não é o caso aqui. O roteiro, escrito por Greta Gerwig (Barbie) e Erin Cressida Wilson (A Garota no Trem), apresenta uma abordagem mais "empoderada" para a protagonista. No entanto, alguns diálogos soam didáticos e forçados, prejudicando a fluidez da história. Além disso, o ritmo do filme oscila, com momentos bem desenvolvidos intercalados por cenas que se alongam além do necessário.
Esta nova versão de Branca de Neve acaba sendo uma reinvenção desnecessária de um personagem clássico, que se junta à leva ruim de remakes em live-action que a Disney tem feito nos últimos anos.
Quanto às polêmicas que o longa levantou, cabe ressaltar que se trata, acima de tudo, de um filme infantil, um conto de fadas — e nada além disso. É uma obra voltada à galera que tem menos de 1,50m (e que isso não vire uma nova polêmica sobre preconceito com pessoas de baixa estatura). Brincadeiras à parte, vivemos em uma sociedade cada vez mais hipersensível e reativa, onde tudo parece se dividir entre certo e errado, sem espaço para áreas com tons mais cinzentos. Nesse cenário, não é difícil entender como até mesmo um filme infantil pode se tornar combustível para debates acalorados sobre os mais diversos temas políticos. Não cabe aqui discutir quem está certo ou errado — até porque, para mim, nenhum dos lados está. Além disso, o que temos por "certo" e "errado" é algo fluido, que muda conforme a época e a geografia. O que é aceitável em um canto do mundo pode não ser em outro; o que choca alguém mais velho pode parecer trivial para um jovem de vinte e poucos anos. A única coisa de que tenho certeza é que, passa década, entra década, os problemas discutidos podem até mudar, mas a discussão, ah, essa sempre está por aí. Faz parte da nossa natureza — só fica aqui o meu voto para que não nos destruamos no processo.
Nota do SOUCINE.COM – 4,5
Branca de Neve ( Snow White – EUA, 2025)
Direção: Marc Webb
Roteiro: Greta Gerwig, Erin Cressida Wilson
Elenco: Rachel Zegler; Gal Gadot; Andrew Burnap
Duração: 109 min
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