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Crítica - Better Man (2025)

  • Foto do escritor: Douglas Faccenda
    Douglas Faccenda
  • 28 de fev.
  • 4 min de leitura



O músico Robbie Williams é desnudado com coragem em cinebiografia ousada, insana e brilhante


A cinebiografia Better Man, dirigida por Michael Gracey, é talvez a maior surpresa do ano até agora. Em um cenário saturado por produções sobre estrelas da música que mais parecem campanhas de marketing glorificadas — como Bohemian Rhapsody, One Love ou I Wanna Dance With Somebody — o filme sobre Robbie Williams toma um caminho completamente inesperado, corajoso e até surreal. E o mais incrível: funciona.


A primeira reação de muitos pode ser de espanto ou ceticismo diante da premissa. Robbie Williams é interpretado por um chimpanzé gerado por efeitos visuais, no melhor estilo Planeta dos Macacos. Sim, você leu certo. Mas é exatamente essa decisão radical e simbólica que define o tom de Better Man desde o início: não estamos diante de um retrato tradicional. Estamos vendo a psique de um artista sendo explorada como raramente se viu em filmes do gênero.


A ideia de usar um chimpanzé como avatar do próprio Robbie não é gratuita. Ela escancara a visão crítica e distorcida que o próprio cantor tem de si mesmo, principalmente nos períodos mais sombrios de sua trajetória. É um artifício visual potente que, longe de ser apenas excêntrico, aprofunda o sentimento de desumanização que o artista viveu em meio ao estrelato, à dependência química e ao desgaste emocional. Robbie, que dá voz ao personagem, abraça completamente a proposta e não esconde nada. Ele narra sua história com honestidade brutal e sem qualquer tentativa de autopiedade.


Ao contrário das cinebiografias “chapa branca” que glorificam seus protagonistas com uma camada de verniz, Better Man é quase o oposto. O roteiro desconstrói Robbie Williams por completo. Sua ascensão meteórica nos anos 90, sua luta interna contra o vazio do sucesso, o mergulho no vício, os problemas de autoestima, as falhas de caráter, a vaidade, o egoísmo, tudo está lá. E está lá sem filtros ou floreios, sem aquele tom de redenção calculada. O filme não o retrata como herói nem como vítima. Robbie é um ser humano em crise constante, tentando entender quem realmente é.


Entre os momentos mais fortes estão os que envolvem sua relação conturbada com o pai, marcada por admiração, frustração e carência emocional. O roteiro mergulha fundo nesses traumas com sensibilidade e complexidade, sem transformar o pai em vilão nem aliviar a barra do protagonista. É uma exposição emocional corajosa, conduzida com muito equilíbrio.


A direção de Michael Gracey, que já havia mostrado talento visual em O Rei do Show, aqui é mais madura, arriscada e inventiva. Ele brinca com elementos oníricos, metáforas visuais e cenas que alternam entre o delírio e a realidade com fluidez impressionante. Em vários momentos, o filme se comporta como um musical psicodélico, quase lisérgico, mas sem perder o foco dramático. A linguagem visual é um espetáculo à parte e reforça o estado mental fragmentado e confuso do protagonista, criando uma estética própria.


Os efeitos visuais, que poderiam facilmente cair no ridículo dada a proposta inusitada, surpreendem pela qualidade. O chimpanzé que representa Robbie é incrivelmente expressivo, realista e emocional. Em vez de criar uma barreira com o público, a escolha nos aproxima ainda mais da dor e da alienação que ele sentia naquele período. É estranho, sim, mas também profundamente tocante.


Os números musicais são outro ponto alto. Ao contrário de outras cinebiografias que apenas recriam performances famosas, Better Man usa as músicas de Robbie para contar sua história emocional. As canções surgem em momentos de crise, revelação ou catarse, e muitas vezes são reimaginadas de formas inusitadas. Seja em grandes montagens ou em cenas intimistas, cada número acrescenta camadas à narrativa, tornando a música uma ferramenta emocional e não apenas um atrativo comercial.


Robbie Williams, ao emprestar sua própria voz ao chimpanzé e permitir que sua história seja contada de forma tão crua e autêntica, mostra uma coragem rara. O filme poderia facilmente cair na caricatura, mas evita isso porque parte dele mesmo. Ele não tenta parecer melhor do que é, não minimiza seus erros, e justamente por isso, Better Man emociona. A empatia que se constrói vem da identificação com suas falhas, não da idealização de suas conquistas.


O final do filme, longe de oferecer um encerramento convencional, sugere que a jornada de autoconhecimento e equilíbrio é contínua. Robbie não é “curado” ou “vitorioso” no sentido clássico. Ele apenas encontra uma maneira de seguir em frente com mais consciência e menos culpa — o que, no fim das contas, é o máximo que muitos de nós podemos esperar da vida real.


Better Man é um filme que poderia ter dado muito errado. Mas deu muito certo. É ousado, estranho, engraçado, trágico e profundamente humano. Em um cenário com tantas cinebiografias esquecíveis, aqui está uma que realmente vale a pena ver, ouvir e sentir.


Nota do SOUCINE.COM – 8,5

Título original: Better ManAno: 2025

Direção: Michael Gracey

Roteiro: Michael Gracey, Oliver Cole, Simon Gleeson

Elenco: Robbie Williams (voz), Jonno Davies (Robbie Williams via captura de movimento), Steve Pemberton, Kate Mulvany, Alison Steadman, Damon Herriman, Anthony Hayes, Jesse Hyde, Karina Banno

Duração: 135 minutos

Gênero: Musical, Drama, Biografia

País de origem: Reino Unido, Austrália, Estados Unidos

Data de estreia: 27 de fevereiro de 2025 (Brasil)

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